Charles Bukowski – Livros do Velho Safado

Acabei de ler Misto Quente, a história da infância, adolescência e início da vida adulta de Henry Chinaski, o alter-ego biográfico de Charles Bukowski.

Já tinha iniciado o livro a um tempo atrás, mas havia parado no meio. Como já começou novembro, agora estou aplicando a dica número 4 para ler mais livros por ano.


Biografia de Charles BukowskiBukowski é do tipo de autor que se ama ou odeia. Ele é cru, sujo e duro como um soco na boca do estômago. Já o conhecia a vários anos, mas nunca tinha tido a oportunidade de ler um de seus livros. O interessante é que comecei com uma biografia: Charles Bukowski: vida e loucuras de um velho safado, editado pela Conrad. Gostei muito e a leitura só me incentivou a procurar saber mais ainda daquele cara bêbado e asqueroso. No livro tem aquela foto clássica que várias pessoas já devem ter recebido por email de um casal extremamente feio. Pois deixa eu te contar uma coisa. O cara da foto é o Bukowski em pessoa. Feio mais um escritor de primeira!

Em seguida, ainda no início de 2004, li Hollywood, livro em que Bukowski conta os bastidores do filme Barfly, estrelando Mickey Rourke e Faye Dunaway. O filme é mais uma biografia de Bukowski, mostrando um escritor bêbado tentando ganhar a vida. Do filme só vi pedaços mas a degradação dos personagens é típico da obra de Bukowski: a escória da escória brigando, xingando e se afogando na bebida.

Depois, mais para o final do ano, foi a vez de um livro de contos: Numa Fria, novamente envolvendo Chinaski e suas diabruras pelas entranhas de Los Angeles. Uma das poucas passagens do livro que lembro é dele descendo um elevador, encontrando uma desconhecida e transando (ou tentando) transar com ela entre dois andares, bêbado de cair.

Finalmente voltando ao Misto Quente. É interessante conhecer a infância de Henry/Charles e ver os momentos que moldaram a sua casca dura e surrada. Quatro passagens mostram a sua iniciação na arte de escrever e me chamaram a atenção:

A primeira é quando ele começa a escrever, fazendo um conto sobre um aviador durante a primeira guerra mundial. A segunda quando ele descobre pela primeira vez a biblioteca pública e começa a devorar livros e autores como Upon Sinclair, Josephine Lawrence e D.H. Lawrence.

A terceira passagem é a descrição da primeira vez que ele experimentou a bebida. Para quem já leu Bukowski sabe que isso é um marco na sua vida. Ele escreveu:

Sentei no sofá. Ficar bêbado era bacana. Decidi que sempre me embebedaria. A bebida levava o que era vulgar para longe, e talvez, se você conseguisse ficar afastado do que era vulgar por tempo suficiente, pudesse escapar desse destino.

E a quarta é quando ele comenta que havia ganho uma máquina de escrever de seus pais, escrevendo vários contos, mas que ele não diz como nem quais são. Só comenta sobre eles quando o seu pai os lê e resolve expulsá-lo de casa, pois Bukowski destilara todo o seu ódio por seu pai no que havia escrito.

Bukowski não é para qualquer um, mas se você se identificar com o peso e a força bruta da sua máquina de escrever, vai se deliciar com uma escrita simples e direta, descrevendo as aventuras de um bêbado letrado levando seus atos sempre ao extremo, numa festa sem fim.

E você, já leu algum livro do velho safado? Coloque nos comentários as suas impressões, dicas e sugestões!

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19 Responses to Charles Bukowski – Livros do Velho Safado

  1. k. says:

    muito amor pelo Bukowski. aqui em casa eu tenho o Crônica de Um Amor Louco, com aquela capa pink escandalosa; o Cartas na Rua, contando as desventuras do Chinaski trabalhando no correio (entre outros); e Hollywood. sempre quis por as mãos no Ham and Rye, mas não consegui encontrar. li outros sortimentos de contos na biblioteca, mas não lembro de nenhum específico fora o Fábulas do Delírio Cotidiano.

    ele é absurdamente nojento, pesado e avesso a praticamente tudo que eu faço, e talvez a atração esteja bem nisso. assim como a Virginia Woolf e a Sylvia Plath se mataram pra que eu não precise me matar, o Chinaski rola na sargeta pra que eu possa deslizar pela calçada 😉

    ano passado eu assisti Factotum no cinema, não sei se lançaram em vídeo. é outro que eu quero ler o livro, mas as cenas do filme são completamente encaixadinhas no trabalho do Velho Safado. incluirei nos meus objetivos de vida: “escrever contos em um bar de striptease após encharcar a alma com whisky”.

    e, pra completar, por último e mais importante, foram os poemas dele que me fizeram ver que, opa, somos um .

  2. Oi K!

    Obrigado pelos comentários! Ainda não assisti Factotum. O que achou do filme? Vale a pena?

  3. k. says:

    Sim, sim, vale muito a pena. O ritmo dele é todo quebradinho, como se juntasse diferentes contos, mas sem perder o fio de ligação, que é a história do Chinaski ser um faz-tudo, porque não importa de onde vem o salário dele – ele não é carteiro, faxineiro ou entregador de pizza: é escritor.

  4. Bruno says:

    Cheguei aqui no seu blog por acaso e gostei…
    Acabei de ler Misto quente agora tbem… gostei bastante. Recomendo Cartas na Rua onde ele conta as aventuras no trabalho nos Correios… li tambem hollywood e O capitao saiu e os marinheiros tomaram o navio que é um livro curto de contos do dia dia da vida dele. Bom recomendo. Li Bunker Hill do Fante por influencia do Bukowski e tambem me surpreendi. Vale a pena. Nao vi os filmes ainda… vou procurar

  5. Duda Furio says:

    Olá, estava procurando alguma pic, pra ilustrar o texto que acabei de escrever, sobre o Buk, achei bastante interessante o que voce escreveu.
    Gostei muito do blog. Add ele aos meus links.
    Abrazzz.

  6. Ricardo says:

    Fico bestificado cada vez que vejo outra pessoa que tenha gostado tanto do velho como eu gosto. Assim como você meu caro eu também conhecia ele a muitos anos, praticamente desde o tempo da faculdade. Nunca tinha dado a devida importância até conseguir com o advento da internet garimpar alguns contos e poesias do querido velho. Gosto tanto do misto quente quanto gosto de respirar. É um livro que me fez chorar, rir, chingar, brigar e até lembrar de muita coisa que passei na vida. Me identifiquei muito.
    O velho continua sendo meu escritor preferido, gosto de levar os golpes que ele dá na gente que lê suas coisas. gosto de ver que apesar de durão ele tinha um ponto fraco que era por mais incrível que pareça a sua necessidade de carinho e atenção das mulheres que o cercavam.

    Bukowski era um cara do caralho como eu costumo dizer. Vejo nele muita coisa que se todo ser humano tivesse na cabeça o mundo seria um pouco “menos pior”.

    Abraço e até outra escrita

  7. Olá Ricardo!

    Muito legal o seu comentário! Só quem leu Bukowski sabe do que estamos falando. Os que não leram ainda não sabem o que estão perdendo.

    Grande abraço!

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  10. Conheci Bukowski através de uma reportagem do Jornal do Brasil, do RJ, quando ele morreu. Saiu uma pequena matéria no caderno de literatura e me interessei. Fui à caça de livros. O primeiro que encontrei foi Numa Fria. Depois não parei mais de ler Bukowski. Hoje tenho todos os livros de prosa dele publicados no Brasil, alguns de poesia, os quadrinhos gigantes da LP&M e uma revistona feita pela Black Sparrow com ilustrações do Crumb, em inglês. Também tenho aqui os filmes Barfly, Crônica de um Amor Louco, Factotum, Lune+Froid (francês), Crazy Love (belga) e o Born Into This (documentário). Nestes anos todos já li e reli o material que tenho dezenas de vezes. Já fui atrás de livros dele e minha próxima proeza será ir a LA procurar material, que tem muito. Posso dizer: é vício.

  11. rafael says:

    Olá. Gostei muito do seu texto, gosto muito de ler bukowski, mas estranhamente não encontro ningué que compatilhe comigo este gosto, deve ser esta história de amar ou odiar. Mas na biblioteca pública do parana é quase impossível achar livros dele, o pessoal que gosta deve esconder isso. Parabéns pelo texto ficou muito bom.

  12. Olá Rafael!

    Legal que gostou! Aproveite e leia mais textos, tenho vários deste tipo no blog!

    Abraços!

  13. Márcio Martins says:

    Olá Rodrigo, tudo bem?
    Estava procurando mais referências sobre Bukowski e acabei achando o seu blog, que achei muito interessante. Estou iniciando com o livro “Misto- Quente e, de cara, já me agradou muito. Espero ler mais livros dele e também, aproveitando sua dica, já estou perparando minha lista de livros que quero terminar. Também sou um aficcionado por livros!
    Um Grande Abraço.

  14. Druijin says:

    o velho safado é foda, comecei com hollywood, e adorei a forma q ele escreve.. e tinha paginas q eu ria sem parar!. Belo post!

  15. Thiago Herrera says:

    Velho Buk. Tenho todos livros traduzidos para o português e alguns em espanhol. O cara conseguiu como nenhum outro rir de si mesmo e descrever a merda e a apatia que era sua vida de uma forma alucinantemente sincera, cínica, sagaz, honesta, despretensiosa e por isso lançou moda. Nada como umas garrafas de cerveja gelada e um livro do Bukowski. Genio estúpido. Maravilhoso.

  16. ivan says:

    bukowski é meu mestre

    quero ser igual a ele quando crecer (l)

    sério, ele é meu mestre justamente pq, qnd os fdp dos best-sellers-mania começa a escrever n qr parar, e o que pode serdito em 50-100 paginas eles dizem em 600. E o pior, crente que criam uma atmosfera de (com)penetração e imersão gigante, qnd eles só tao sendo prolixos

    vai la bukowski! simples, direto, objtivo, sujo com conteudo e ácido é o que há!

  17. Jamir says:

    Cara, o primeiro que li do Velho Safado foi Pulp, e recentemente acabei Misto Quente, pretendo ler agora Numa Fria agora que fiquei sabendo que também se trata de Chinaski..

  18. Eu era um cara parecido com o Henry,
    mas não odiava meus pais.
    Misto quente é o segundo livro do bukowski que to lendo!!
    As histórias dele são viciantes!!

  19. Ida Sartorio says:

    Amo Bukowski. Comecei com Factótum, depois li Misto Quente e agora estou lendo o Crônica de um amor louco. Também já comprei o Mulheres. Gosto tanto dos livros que leio aos poucos, meio que economizando para não acabar logo!

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