Bad Jack – Um Fanzine

Revista Animal 01Além dos livros, sempre fui um apaixonado por quadrinhos, especialmente na minha adolescência. De 1984 até 1990 comprei todas as histórias em quadrinhos que saíram no Brasil. Todas!

Comecei comprando os quadrinhos da Marvel e DC, mas logo enveredei pelos meios mais undergrounds; exatamente o ambiente em que os fanzines nasceram e se criaram. Eu adorava a extinta revista Animal (um espécie de Heavy Metal brasileira), mas gostava mais ainda de um caderno central chamado MAU, que era uma espécie de fanzine.

Daí que um dia me deu um clique e resolvi fazer o meu próprio fanzine. Peguei o meu possante 386DX 40Mhz e o recém descoberto PageMaker e fiz o Bad Jack, um pequeno fanzine de 4 páginas em formato A5. O nome foi inspirado no whiskey Jack Daniels, que eu havia conhecido a pouco tempo.

Fanzine Bad Jack CapaO original saiu de uma impressora matricial caseira; fui até uma fotocopiadora e fiz 50 cópias. Levei até a Itiban, conhecida banca de quadrinhos importados aqui de Curitiba e deixei lá para distribuir. Era setembro de 1992.

Infelizmente o Bad Jack só durou um número. Provavelmente parei porque não tinha um contato com os leitores. Os blogs, hoje em dia, dão esta retro-alimentação que é tão importante para que uma pessoa continue a fazer o seu trabalho, publicando cada vez mais textos e opiniões e interagindo com seus leitores.

No Bad Jack falei sobre quatro assuntos que me interessavamFanzine Bad Jack Página 2 na época: A história em quadrinhos Spawn, de Todd McFarlene, que acabara de ser lançado, do Love and Rockets (outro quadrinho, que acredito ter uma forte influência do livro Cem Anos de Solidão) e também da série de livros Duna. O quarto assunto acabei não falando nada, mas coloquei como ilustração de capa. Era um desenho intrigante de um cara parecendo estar crucificado, retirado de uma história do Lourenço Mutarelli, que vai ser tema de um outro post. Só posso dizer que o cara é fantástico, no estilo ame-o ou o odeie.

Ainda tenho a edição original, que fotografei e pode ser acessado em alta resolução nos links das páginas mostradas neste post. Para que o texto seja indexado pelos mecanismos de busca reproduzo abaixo as matérias do Love and Rockets e da série Duna, que ainda me interessam muito.

O engraçado foi que coloquei uma área de créditos para quem havia trabalhado na elaboração do fanzine. Olhem só os meus “assistentes”: 🙂

Editor in chief: Rodrigo

Editor de Arte: Handy Scanner HS-3000 Plus

Redator: Microsoft Word

Diagramador: Aldus PageMaker 4.0

Gerente de Produção: 386DX 40Mhz

E aqui seguem as matérias que falei acima.

Love And Rockets

Fanzine Bad Jack Página 3Já a algum tempo a editora Record tem trazido até nós a ótima Love and Rockets. Para quem conhece as histórias criadas pelos irmãos Hernandez a sigla L&R já é uma alegria. Mas o que é este universo criado por dois chicanos que nasceram na Califórnia?

Se você pensou em incríveis heróis espaciais musculosos e lutas titânicas para salvar o planeta, está totalmente enganado. L&R, Locas, Crônicas de Palomar e tudo que se refere a este maravilhoso universo conta tão e somente o cotidiano das pessoas. Isto mesmo, passeios de finais de semana na casa da amiga rica, bebedeira nas noites de sábado e ensaio da banda da Hopey. Os irmãos Hernandez conseguiram cativar os leitores para os seus contos, por mais normais que sejam eles. No início L&R contava a vida de Maggie, uma mecânica de foguetes. A cada aventura ela estava em algum lugar do planeta para consertar foguetes. O cenário era um pouco futurista, mesclando carros voadores e calhambeques na maior naturalidade. Após algum tempo, os foguetes foram ficando para segundo plano e os Hernandez concentraram-se na vida de Maggie e suas Amigas.

L&R é tudo isto e muito mais. Quando você estiver passando por uma banquinha e dar de cara com um exemplar de Love and Rockets, esprema os bolsos e compra esta maravilha, aposto que você não vai se arrepender.

Duna

Fanzine Bad Jack Página 4Um Planeta onde a água vale tanto ou mais do que o ouro. Um Planeta onde os homens vagam pelo deserto com roupas que reciclam o próprio suor. Um Planeta que possui a especiaria mais valiosa do Universo. Um Planeta dominado por gigantescos Vermes de Areia. Um Planeta chamado Duna.

Em 1965, quando Frank Herbert publicou o primeiro livro da série Duna, perguntaram-lhe se estava criando uma nova religião. Alguns já definiram seu estilo de “ficção científica psicológica”, tão grande é a elaboração de seus personagens. Não existem grandiosas batalhas intergaláticas. No lugar delas temos os conflitos e as infindáveis tramas políticas pelo poder.

Uma irmandade de Bene Gesserit (espécie de freiras misturadas com bruxas) tentando criar o Salvador. Cada Bene Gesserit tem no seu interior a consciência de todas as suas antepassadas. É algo como saber o que seu bisavô pensou no dia 25 de agosto de 1846! Navegadores da Corporação (pilotos de gigantescas naves espaciais) viajando pelo hiper-espaço. Conseguindo fazer tais viagens através da ingestão de doses maciças de Melange. A Melange desperta o poder da presciência nas pessoas, mostrando-as pequenos flashes do futuro.

A família Atreides que foi agraciada (ou amaldiçoada) com o feudo de Arrakis (Duna). Os Harkonnen, eternos inimigos dos Atreides. Paul Atreides, um garato tornando-se homem. Um homem que poderá ser o Muad’Dib (o Salvador).

Todos estes personagens espalham-se por seis volumes e mais de 2.800 páginas contando a história de Paul Atreides e seus descendentes. Mais, acima de tudo, contando a história de Duna. Se você viu o filme, esqueça. Leia o livro.

E você, já fez algum fanzine na vida ou gosta de algum destes assuntos que tratei no Bad Jack? 🙂

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3 Responses to Bad Jack – Um Fanzine

  1. Beckmann says:

    ouch, e não é que o 386 deu conta do recado?
    ficou um trabalho muito bem feito, legal você ter resgatado esse momento.

    coincidência ou não, esses dias atrás peguei o dvd de Duna para rever, eita que beleza 🙂

    fico no aguardo do post sobre mutarelli
    manda ver!

    []s

  2. Oi Bechmann!

    Tem a mini-série de Duna. Eu a considero de melhor qualidade, pelo menos em termos de história, do que o filme.

    E o post do Mutarelli sai, de preferência esta semana ainda…

    Abraços!

  3. Pingback: Lourenço Mutarelli - O Homem que Faz o Ralo Cheirar | Empirical Empire

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